As marcas das minhas leituras

“Eu sou essa gente que se dói inteira porque não vive só na superfície das coisas.”

Rachel de Queiroz

A leitura é sempre marcante. Porém atrevo-me a dizer que, algumas leituras são mais que outras, pois alguns livros tatuam em nossa alma a sua essência sem que percebamos e suas histórias, personagens e trechos nos acompanharão por muito tempo. E isso é bom, pois vamos nos cercando de mundos diversos para podermos encarar de forma mais suave o mundo real em que vivemos.

Tenho experiências de livros que me trouxeram uma ressaca literária, um verdadeiro luto em minha vida quando ele chegou ao fim. Um livro bom, uma história envolvente tem essa capacidade de levar o leitor a desenvolver sentimentos bem paradoxais: ler desesperado para saber o final e, ao chegar ao fim, sofrer por ter que se separar do livro.

A partir de hoje, tentarei mostrar aqui livros que me marcaram, em épocas distintas da minha vida e que os considero interessantes. Sem grandes pretensões, falarei apenas das minhas leituras, de autores nacionais ou internacionais, contemporâneos ou clássicos, que me fizeram feliz enquanto habitei em seus mundos.

Quando em dezembro de 1982 ganhei da minha professora de Língua Portuguesa o livro Pollyanna, de Eleanor H. Porter, eu não imaginaria o quanto eu teria que “brincar do contente” pela minha vida a fora. Várias vezes eu me senti igual àquela menininha que buscava forças em meio às suas dores e sorria para a vida de forma otimista e bondosa. Por isso, na tentativa de não me separar desta personagem, nas férias do ano seguinte comprei o Pollyanna Moça, da mesma autora, e os guardei comigo até hoje.  Esta história me fez querer ter uma filha para dar a ela este nome e não fui a única a querer ter um motivo para usar o nome da personagem. O livro desencadeou esta mesma vontade pelos leitores do mundo inteiro, cuja história continua conquistando as pessoas através do livro ou de outras mídias nas quais ela vem sendo contada.

Durante a minha adolescência, muitos outros livros me encantaram: O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, com seus questionamentos intermináveis; O Diário de Anne Frank, de Anne Frank, cuja temática me obrigava a disfarçar os olhos avermelhados e inchados do choro que transbordavam a cada página; Pássaros Feridos, de Colleen McCullough, cuja história de amor proibida me fez sonhar e desejar vivenciar um amor tão forte quanto aquele.

E o que dizer dos clássicos nacionais que li para atividades escolares e que traziam em si inovações que me encantavam, quer fossem pela temática, como Memórias Póstumas de Brás Cubas, no qual Machado de Assis começa surpreendendo o leitor com a inusitada dedicatória ou ainda O Quinze, de Rachel de Queiroz, em cuja história revivi as dores da seca da região em que vivo desde a infância; ou pela estrutura narrativa que difere de tudo o que estava acostumada até então em minhas leituras, como o romance Avalovara, de Osman Lins, cuja leitura exigiu de mim uma dedicação maior.

A leitura dominou-me de tal forma durante a minha adolescência que por diversas vezes ouvi a minha avó aconselhando a minha mãe a ter cuidado comigo, pois eu poderia enlouquecer de tanto que lia e estudava, que eu precisava viver, sair e me divertir. E eu fui conseguindo me safar das broncas e proibições por estar lendo demais, até o dia em que quase provoquei um incêndio em minha casa: estava lendo de madrugada, deitada em minha cama, segurando uma vela acesa, que derrubei e pegou fogo em meus lençóis. Tempos difíceis em que as lanternas eram à pilha e acabavam em momentos em que a história estava muito empolgante.

Para mim, falar sobre livros e leitura é quase tão bom quanto ler, porém é necessário ir com calma aqui, mesmo que eu ainda tenha inúmeras leituras que foram marcantes em minha vida, terei outros momentos para conversar sobre elas com você. Por enquanto, eu lhe desafio a se lembrar do primeiro livro cuja história lhe marcou e lhe acompanhou pela vida afora.

Até breve!

Autora

Cida Quelé cursou Letras e Especialização na UPE, é professora e atua como Tutora no Curso de Licenciatura em Letras da UPE/UAB e como Coordenadora de Biblioteca.

Desde 2018 participa de antologias e coletâneas de crônicas, poemas, cartas, microcontos e contos. É membro efetivo da UBE/Núcleo Arapiraca/AL. Publicou o livro de microcontos 80 Pontinhos (Simbiose, 2022). O seu conto “Um Porto Seguro” foi o ganhador do Prêmio Strix em 2020.

Instagram: @macida.quele

Email: macida.quele@gmail.com

2 comentários em “As marcas das minhas leituras

  1. Nunca canso de ler sobre arrebatamentos de primeira leitura. As sensações de encanto e imersão se repetem nos leitores, mas cada um com sua obra. No meu caso, foi O pequeno príncipe que me levou para o caminho sem volta do prazer pela leitura.

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