Gosta de muitas surpresas mescladas com cenas futurísticas de viagens no tempo e mudanças de realidade? Então, “O fim da eternidade” talvez seja uma boa história para se envolver em tempo e espaço.
A carga de ficção é bem forte do começo ao fim, já que o próprio período da narrativa não é claro: você só sabe que está em uma organização chamada “Eternidade”, que tem a capacidade de mandar os seus representantes (os eternos) para um determinado século de acordo com a sua necessidade. Isso para garantir a felicidade permanente da humanidade por meio de pequenas modificações que seriam capazes de evitar guerras, catástrofes, etc. Nesse momento é que surgem algumas questões levantadas por Asimov: o que é felicidade? Ela pode ser diferente de pessoa para pessoa, de época para época? Evitando momentos ruins as pessoas ficariam realmente mais felizes ou tudo seria somente mais uma forma de dominação velada da vida alheia?
Nesse instante, opiniões opostas são colocadas sob análise: a conservadora do técnico Harlan e a liberal da sempre misteriosa Noÿs Lambent.
Para ele, que sempre foi um dos eternos mais dedicados e eficientes no serviço, a Eternidade assegura a sobrevida da humanidade ao realizar micromudanças praticamente imperceptíveis, mas que passassem a incentivar o estudo da engenharia temporal em lugar do uso da energia nuclear, propiciando assim o desenvolvimento de viagens intertemporais em vez de guerras nucleares que criariam um ambiente terrestre nada agradável.
Parece realmente um cenário muito tranquilo e sereno, ideal para se viver com alta qualidade de vida. Até que Noÿs Lambent resolva jogar todo esse contexto bucólico por terra: essa vida “bonitinha”, “perfeitinha” não seria a melhor para o ser humano.
Em suas próprias palavras, “ao eliminar os desastres da Realidade, a Eternidade exclui também os triunfos. É enfrentando grandes dificuldades que a humanidade consegue alcançar com mais êxito os grandes objetivos. É do perigo e da insegurança que surge a força que impulsiona a humanidade para novas e grandiosas conquistas”.
O homem só continuaria evoluindo se fosse capaz de superar as adversidades pelas quais passasse. Sem inovar, sem se reinventar progressivamente, a vida, em algum instante, acabaria ficando sem graça. Como que sem identidade própria, a falta de novos objetivos e conquistas, isso sim, seria o responsável pela extinção de uma humanidade na verdade triste por não poder realizar-se.
E, apesar de algumas outras contestações, o pensamento da mulher não deixa de ter uma grande utilidade: afinal, todos gostaríamos de viver em um mundo sem problemas, preocupações. Mas será que seria realmente melhor ou sempre sentiríamos falta daquela pimentinha que não nos deixa ficar parados? É o que vai caber a cada leitor decidir…
Autor

Leandro Dupré Cardoso é o criador da página Olhar para Dentro.
Administrador paulistano nascido em 1993, é produtor de artigos para o blog Obvious e foi indicado para a fase final do Prêmio Strix 2016 e 2017 pelas publicações em coletâneas de contos da Editora Andross. Tornou-se jurado do Prêmio Strix em 2018 e 2019.
É autor dos livros de ficção “O rico, a velha e o vagabundo”, “A era i-Racional”, “Samádia – A lenda da ilha perdida”, bem como da série “O Pinheiro”, entre outros publicados pelas Editoras Andross, Clube de Autores e Kindle Direct Publishing (Amazon).
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