Lições para tentar outra vez

Mais uma importante espécie está se vendo muito ameaçada de extinção. O que é absolutamente compreensível: os nossos tijolos do progresso não devem ter barreiras para se expandir e quem estiver pelo caminho vai ter que rebolar. Quanto mais considerando esta espécie que, apesar de estar tão próxima do nosso cotidiano, não é apreciada por ninguém. Não provoca empatia por causa de sua feiura. Não provoca piedade por causa da sua amargura. Está simplesmente fadada ao mais completo sumiço sem direito a saudades ou ressentimentos. Só que não: esta muito peculiar espécie chamada “Tristeza” parece que só ganha mais força à medida que nos esforçamos por tentar afogá-la nos poços mais profundos.

A boa educação diz que devemos sempre ser simpáticos e sorridentes. Dizer que está tudo muito bem, obrigado. Nem que seja na marra. Para isso talvez você precise se intoxicar com vários remédios tarja preta. Ou tenha que criar um glamoroso universo fantástico para cobrir a imundície que prolifera cada vez mais ao seu redor. Não importa a forma: o importante é que o artificial engraçadinho se sobreponha ao real chato. É o monstro que se esconde embaixo da cama. Se ninguém definitivamente o enfrenta, é questão de tempo para que volte a assustar com faces ainda mais horrendas.

A discussão que ocorre a respeito da crescente preocupação com focos de depressão e novos perigos relativos ao suicídio traz novamente à tona aquilo que não desejamos admitir: a tristeza está mais embrenhada do que nunca sob os panos quentes da nossa ditadura da felicidade. Que exclui aqueles que não defendem as suas ideias. Que tortura mentalmente. Que mata.

O positivo se torna prejudicial sem o negativo como contrapartida. O sol é ótimo, mas sem a chuva para esfriar os ânimos não há lavoura que aguente viver sem ficar torrada. É o Yin sendo complementado pelo Yang. A vida precisa estar em equilíbrio para ser plenamente saudável. Porém, apesar de parecer passar por um processo mais acelerado atualmente, Buda já havia percebido que a vida está em desequilíbrio. E é por isso que ele definiu o conceito do caminho do meio para a nossa orientação.

Se é preciso criar um caminho é sinal de que a mudança é imprescindível, o local atual não nos sustenta mais e por isso se deve trocar de ares. Se a vida está em desequilíbrio é necessário fazer algo para consertá-la. Se o sofrimento existe é porque existe insatisfação. E a insatisfação só existe em razão de alguma vontade não concretizada, um desejo não atendido.

Selecionar é não selecionar. Adquirir uma simples calça implica em deixar de adquirir todas as outras da loja. Parece que a situação só se agrava em um ciclo vicioso da incompletude. Nunca é possível ter tudo, a vida exige sacrifícios a todo instante. Mas na verdade existe uma solução para esse caso aparentemente insondável. E é cortar o desejo pela raiz.

Inspira. Expira. Aprenda com o passado para programar o seu futuro. Mas sempre viva o presente. Ao invés de querer tudo, seja a mudança que você quer ver no mundo. Seja o aqui e o agora. Sem medos, sem vergonhas, sem apego.

Inspira. Expira. Mais uma vez e quantas precisar. Então você estará pronto. Não para trilhar o caminho do meio, mas para passar a buscá-lo. O importante é que você esteja realmente se movendo para o lado correto.

Desligue-se para se ligar. Sinta a conexão que existe entre você e o universo. Sinta a força ao redor que permeia toda a existência. E siga em frente. Com o exercício da prática, o pensamento correto, o esforço correto, a atitude correta e outros atalhos importantes irão se revelar à frente de seus olhos. Basta apenas procurar por eles. Pois é assim que, quando menos se espera, o caminho do meio pode subitamente aparecer bem debaixo dos seus pés…

Autor

Leandro Dupré Cardoso é o criador da página Olhar para Dentro.

Administrador paulistano nascido em 1993, é produtor de artigos para o blog Obvious e foi indicado para a fase final do Prêmio Strix 2016 e 2017 pelas publicações em coletâneas de contos da Editora Andross. Tornou-se jurado do Prêmio Strix em 2018 e 2019.

É autor dos livros de ficção “O rico, a velha e o vagabundo”, “A era i-Racional”, “Samádia – A lenda da ilha perdida”, bem como da série “O Pinheiro”, entre outros publicados pelas Editoras Andross, Clube de Autores e Kindle Direct Publishing (Amazon).

Email: leandroduprecardoso@gmail.com

Facebook: Leandro Dupré Cardoso

Instagram: @leandro_dupre

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