Ó noite de outono!
Tu que és de natureza pródiga
hoje exibe canhestra
estrelas sob a bruma espessa.
Ó noite treva de outono!
demienluarada, tenebrosa,
anuncia trovoada estrondosa
o temporal; torrente chuvarada.
Chuva-nos, ó noite mãe!
das cidades às matas
da sede urgente, margens transbordadas
do povo das terras duras, seca-rachadas,
das dores, da fome, do tudo ou nada,
do nada ou nada; nada, nada…
Ó noite gentil e destra
Chova a chuva mais pesada
no estopim da madrugada
nos pés, nas mãos, na testa,
sobre o fogo da morte na floresta
lave a poça de sangue
que escorre daqui às offshores.
Ó mente inquieta e intranquila
dá-me sonos mal-dormidos,
minera em pensamentos vagos.
um clarão no céu escuro, um rasgo
o bater dos pingos na calha do telhado:
tec, tec, tec, tec, tec…

Autor

Mário L. Cardinale é capriconiano, natural de Poá, município da Grande São Paulo.
Formado em Farmácia, atualmente embrenha-se no estudo das humanidades, sendo a filosofia, a política, a música e a literatura suas paixões.
É casado, pai de Alice e Gael. O poeta dedica-se à escrita há cinco anos, lançando no final de 2020 uma reunião de seus primeiros poemas intitulada “O Mundo do Poeta”.
Instagram: @mariolcardinale