Acordou naquele dia, sabendo que seria diferente.
Pegou a toalha, seguiu para o banho contente.
Demorou no chuveiro, sem pressa, tinha algo em mente.
Hoje seria feliz, viveria o seu presente.
Pegou o belo vestido, guardado para sempre.
Vestiu a meia calça, passou a mão no pente.
Prendeu o cabelo num coque, bem diferente.
Calçou o sapato de salto, pegou a bolsa de serpente.
Retocou o batom, o perfume e nas mãos o creme.
Trancou o seu portão e elegante seguiu em frente.
Ignorou os olhares, os risos e as piadas daquela gente.
Sorriu para quem respeita e entende ser diferente.
Pegou o ônibus, o metrô, curtiu o dia freneticamente.
Quando a noite chegou, o celular segurou e leu tudo atentamente.
Mulher, filhos, família o procuravam desesperadamente.
Você tá louco? Ficou doente? Nos envergonhou eternamente!
Cansou de se esconder na própria mente.
Agiu, para os seus, inconsequentemente.
Decidiu, para si, desvanecer, não acidentalmente.

Autora

Jeane Lima é graduada em Letras pela UNICSUL-SP e pós-graduada em Língua Portuguesa pela mesma instituição.
Escritora de Contos, Microcontos, Crônicas e Poesias, possui textos publicados em várias antologias nacionais. Indicada à primeira fase do prêmio Strix de literatura em 2020.
Colunista literária no Jornal Voz em Minas Gerais: https://jornalvoznet.com.br/essencia
Instagram: @escritora_jeanelima