Lançamento de “Ração para Traças”, livro de poemas de Rafael Quelé

A última edição do evento “Livros em Pauta”, organizado pela Editora Andross, ocorreu em 07/05/2022 e providenciou o lançamento de diversas antologias de contos e livros solo de autores nacionais. Entre os lançamentos está o livro de poemas “Ração para Traças”, de Rafael Quelé, produzido pela Editora Simbiose.

Rafael é um escritor pernambucano que usa sua escrita como desabafo e transmuta sua melancolia em um angustiante processo criativo. Agora ele nos relata um pouco sobre esta nova publicação que representou o primeiro livro solo de sua carreira:

Conte um pouco sobre você!

Sempre encontro certa dificuldade em falar sobre mim, de tal forma que procrastinei essa pergunta até onde pude. Porém agora não há mais para onde correr.

Bom, acho que a melhor forma é começar sobre meus hobbies e interesses, afinal podemos conhecer muito sobre alguém apenas conhecendo seus gostos.

Sou um devorador de histórias e amante das artes, portanto sou um leitor voraz e um cinéfilo ávido. A maior oficina de escrita que participei é uma outra paixão minha chamada RPG. Ou seja, ao fim de tudo sou, e com muito orgulho, um nerd.

A literatura se apresentou a mim logo cedo através do incentivo de minha mãe, a escritora Cida Quelé. E a partir de então cresceu em mim o sonho de ser escritor, antes mesmo que eu sequer soubesse escrever.

Tive e sempre terei contato com uma diversidade de gêneros, porém os meus prediletos sempre serão Fantasia, Terror e Ficção Científica. Já as autoras e autores que amo são uma lista diversa e extensa que não cabe aqui, porém cito alguns sem medo de errar: Clarice Lispector, Edgar Allan Poe, Tolkien, Stephen King e Neil Gaiman.

Como falei anteriormente, amo escrever, ler, assistir e conversar, para os três aceito um espectro que vai do banal ao profundo, não faço distinção, contanto que ainda haja certo conteúdo mesmo na simplicidade do raso. Detesto as aparências apenas por aparências, o belo para mim não se sustenta sem conteúdo, portanto, assim como muitos modernistas, não sou fã de sapos.

Por fim, os detalhes mais técnicos e talvez não tão interessantes: atualmente estou no sétimo período do curso de Bacharelado de Ciência da Computação da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e cogitando seriamente comprometer mais de minha sanidade em um mestrado. Pois, apesar de tudo, eu me encontrei na computação em áreas fantásticas, como é o caso do aprendizado de máquina.

Entretanto, acredito que o mais importante sobre mim é que jamais deixarei de jogar RPGs, ler, assistir ou escrever, não importa o que seja daqui pra frente, serei sempre um contador e colecionador de histórias, e adoraria ser lembrado assim.

Como surgiu a ideia do livro “Ração para traças”?

No fim, “Ração para Traças” acabou sendo uma ideia que não surgiu, mas sim “foi acontecendo”.

Desde meu ensino médio eu escrevia meus poemas de modo bem descomprometido, apenas como uma válvula de escape para meus sentimentos. Porém, acabei pegando gosto pela coisa e através do tempo fui estudando e me aprimorando na técnica.

Após participar de algumas antologias, surgiu, através do agenciamento brilhante da minha mãe (Cida Quelé), a oportunidade de lapidar meus escritos e os compilar em um livro através do direcionamento certeiro de Edson Rossatto (editor da Editora Andross e Simbiose), e eu senti que era o momento. Então, ao longo desse processo de edição e seleção acabei reunindo poemas (inclusive o primeiro que fiz) que datam desde meu ensino médio até poemas que escrevi durante o período de pandemia.

 Por isso gosto de dizer que foi um livro escrito antes mesmo de se saber que era um livro.

Quais temáticas serviram de inspiração para seus poemas?

Existem quatro pilares para minha poesia: melancolia, morte, amor e raiva. Todos se misturam das mais diversas formas, por vezes refletindo situações que passei ou situações que minha imaginação indômita me fez passar. Graças à minha ansiedade, tenho diversos poemas que são como polaroids de um futuro natimorto.

Portanto, nesse amálgama de sentimentos, os meus poemas acabam assumindo as mais diversas formas, sendo de crítica, desabafo ou reflexões, porém algo que sempre estará presente, mesmo nos mais simples ou óbvios, é o risco e a profundidade.

Afinal não gosto da escrita segura e nem de mergulhar no raso.

Como foi o processo criativo?

Doloroso, tanto no processo da escrita, que no caso de alguns se deu seis anos antes, quanto no trabalho de edição que fiz durante a pandemia para “pentear” tantos de meus versos.

Digo doloroso, pois o que começou como um escape da melancolia, tornou-se um pretexto para eu alimentá-la em uma situação bem semelhante à que Bukowski trata no poema “Blue Bird”. Isso somado ao fato de meu processo criativo de modo geral só ocorrer em meio às minhas crises de ansiedade fazem desses momentos de criação um frenesi infernal, onde curiosamente acho conforto.

Em um texto que escrevi neste período de pandemia, falei sobre uma noite em que trabalhei diversos poemas seguidos sem descanso. Finalizei as linhas desse escrito dizendo: “Essa noite pari sete demônios”, acho que não há frase melhor para definir meu processo criativo.

Quais seus poemas preferidos na obra e por quê?

Essa pergunta é um pouco cruel para mim, dado que além de minha predileção estar em constante mudança, o caráter desgastante do meu processo criativo garante um carinho diferente para cada um de meus poemas. Além disso, tem a boa e velha indecisão que sempre me acompanha.

Portanto, responderei algo que irá matar a curiosidade dos leitores e que quando eu reler a entrevista em algum tempo, não irei me arrepender da escolha:

O poema “E se” é muito especial para mim, pois foi o primeiro poema que escrevi e o último que editei para o livro. E eu só consegui trabalhá-lo no fim por estar passando por uma situação semelhante a que me motivou a escrevê-lo tantos anos atrás.

Em 2016 eu o escrevi pensando em uma garota que eu gostava e para a qual nunca consegui me declarar. Em 2022 eu o editei após o término de um relacionamento com um amor intenso e gentil que tive a felicidade de viver.

Portanto, “E se” começou com um amor que nunca nasceu, e acabou com um amor interrompido, afinal amor de verdade nunca tem fim, alcançamos o destino da jornada, mas o sentimento continua.

Então eu diria que ele é uma resposta mais que apropriada, embora não seja o único preferido do momento. A esses outros eu protegerei no caráter hermético que tanto amo de Clarice, respondendo: “É segredo.”

Qual a grande mensagem que você pretende passar com o livro?

A principal é que origem e idade não nos limita, mas sim nos engrandece. Por certo tempo achava que por ser jovem e do interior de Pernambuco jamais teria grandes conquistas ou alcance na arte, porém esse livro é a materialização mais linda de que eu estava errado, assim como tantos artistas hoje estão errados. Então corram atrás dos seus sonhos.

A segunda é a importância de se receber bem as críticas construtivas, afinal sem as críticas e ensinamentos do meu editor Edson Rossatto, esse livro não seria o que é. Então saibam acreditar e defender seus projetos, mas saibam também ouvir as pessoas certas para que possam aperfeiçoá-los.

Ademais, comportamentos tóxicos em qualquer relacionamento, bem como ideologias de ódio e discriminação devem ser destruídas através da arte e não romantizadas.

E a última mensagem do “Ração para Traças” é que se pode brincar com a poesia. É possível brincar com a gramática e a pontuação, trazer áreas como a matemática para dentro de um poema, ou até mesmo fazer um poema de monstro para se falar de romance, ou de amor para se falar do inferno. A arte não tem fronteiras, então não imponha limites em sua produção, seja ousado, criativo e livre.

Como podemos adquirir o livro? Quais os contatos em que podemos falar com você?

Vocês são mais que bem-vindos em meu instagram (@rafa_quele), lá vocês podem entrar em contato através de DM para saber detalhes acerca da compra e envio do livro, lembrando que estamos enviando para todo o Brasil!

Além disso, sintam-se à vontade para conversar comigo não só sobre o livro em si, mas também acerca dos mais variados assuntos, inclusive estou à disposição para ajudar qualquer um que precise de dicas relativas à escrita ou à própria vida em si.

Tem algum novo projeto em vista que possa nos contar um pouco?

Sim! Em meio aos projetos da UFAL e alguns projetos pessoais fora do escopo da escrita, estou trabalhando em meu segundo livro. Porém ainda tenho muito a decidir e a escrever para poder afirmar acerca de seu conteúdo, mas o que posso informar com exclusividade aqui é que não será um livro de poesias. Quero explorar outros gêneros que tanto amo. Chegou a hora de desengavetar minhas ideias.

Porém, asseguro a todos os corações que adotaram os versos de “Ração para Traças”, que em breve retornarei com mais poesias em um futuro livro.

2 comentários em “Lançamento de “Ração para Traças”, livro de poemas de Rafael Quelé

  1. Rafael Quelé um jovem poeta e escritor que escreve e fala com muita segurança e maturidade.
    Ração para traças é um desabrochar de sentimentos.
    Muito promissor ver jovens expressando sentimentos. É o futuro em boas mãos.

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