Às vezes é preciso sair do ar e, como os técnicos de informática sabiamente orientam, desligar o aparelho da tomada por dez segundos para só então voltar a ligar. Esta é uma necessidade de muitos de nós que vivemos inseridos nessa lógica de ser máquina. Até que chega o tempo em que há eletricidade demais circulando e é preciso esfriar o sistema para só daí voltar a atividade.
Não é uma prática simples, afinal não somos máquinas e quando desligamos da tomada é para nunca mais. O jeito então é encontrar uma forma de resfriar usando algum subterfúgio, seja um hobbie, uma série nova, uma pescaria, um filme velho de sessão da tarde, um chopinho com os amigos, uma feijoada no final de semana ou um livro.
Livros são uma fonte inesgotável de distração mental e rendem muitas horas de um gozoso “dolce far niente”. Por exemplo, a primeira vez que mergulhamos num Sidney Sheldon a expressão “devorar um livro” começa a fazer total sentido. Quando lemos um dos romances da Nora Roberts é quase impossível não ficar um pouco apaixonado e diria que depois de dois livros de John Grisham, um tribunal e o mundo jurídico vão se revelar um campo fértil para conspirações e reviravoltas e todo mundo sairá da leitura um pouco advogado.
A ideia não é criar polêmica citando ainda os best-sellers brasileiros Paulo Coelho e Zíbia Gasparetto, o caso é: por que não?
Quando alguém diz que quem lê, viaja, refere-se a outros sentidos além do turístico. Quem lê, e se entrega a uma leitura puramente por fruição, passa a funcionar um pouco no modo automático e dá aquela refrigerada no cérebro. O escritor coloca um narrador para falar na sua cabeça, desenhando cenários e descrevendo personagens e tramas que permitem a gente sair um pouco de si mesmo, uma ferramenta poderosa, há de se convir.
Mas talvez porque nossa sociedade tenha uma educação deficitária, os livros costumam estar associados principalmente como fonte de aprendizado, conhecimento, e não deixam de ser à medida que enriquecem o vocabulário, aprimoram a capacidade de interpretação de texto e fornecem informações sobre o mundo. Mas eles também são cultura, entretenimento. São produtos da ação criativa de outra pessoa que despertam sentimentos e sensações possíveis de acessar apenas na leitura.
Para escapar da realidade e resfriar meu hardware nestes dias nebulosos escolhi voltar no tempo, ser criança e acompanhar Berit e Nils em sua investigação para desvendar o mistério que ronda a esquisita bibliógrafa Bibbi Bokken e uma Biblioteca Mágica de que ouviram falar. Na história de Jostein Gaarder e Klaus Hagerup, os primos Berit e Nils, que vivem um nos Estados Unidos e outro na Noruega, trocam cartas e traçam um plano para descobrir o segredo desta mulher que carrega consigo um livro amassado e caminha por uma livraria babando, como quem saliva por um chocolate.

Monteiro Lobato, renomado autor de livros infantis, criador do já folclórico Sítio do Pica-pau Amarelo disse:
“Uma nação se faz com homens e livros.”

E ele não se referia ao livro didático, cheio de lições e matérias escolares, mas àqueles de povoar as ideias com cores vibrantes, lugares exóticos, terras distantes, outros mundos, amores impossíveis, reencontros surpreendentes, personagens apaixonantes, vilões odiosos, tragédias e tudo mais que as palavras puderem expressar e que, aos poucos, facilitarão no imaginar de quem lê a concretização do tipo de lugar em que queremos viver a realidade dos nossos dias.
Autora

Natural de São Paulo, é graduada em Direito, História e atua como Revisora.
Feminista em construção, usa sua página no Instagram para compartilhar experiências de leitura e vida.
É colunista do portal Olhar para dentro e do site <commusica.com.br> e integra o Coletivo Escreviventes de escritoras. No Medium publica crônicas intimistas. Tem textos em coletâneas e revistas literárias.
Nas redes é @moniquebonomini e sua produção pode ser encontrada em linktr.ee/moniquebonomini
Bom dia, minha querida!
Ah! Os livros são os nossos companheiros dos mais amorosos. Eles permitem que transcendemos a nossa realidade, nos proporcionam viagens incríveis dentro de nós e para muito além quando assim nos permitimos.
Eu aprendi a amar os livros ainda menina, embora fossem escassos dentro de casa, eu os pedia emprestado nas bibliotecas. Iniciei com estórias se aventura com o querido Marcos Rey e fui para Giselda L. Nicoleli e não parei mais.
A minha paixão pelos livros é visceral, eles me confortam e também me tiram da zona de conforto, o que é magnífico, pois permite uma eterna busca.
Este amor levei para meus filhos, para alunos e professores, o prazer de ler e ver o que muitas vezes está invisível aos olhos, mas dentro dos nossos corações.
Dentre meus livros que fizeram histórias na minha vida junto com os meus companheiros de jornada em casa, na escola, no consultório destaco: A Caligrafia de dona Sofia, O menino e o plátano, Sim Quixote para as crianças, O Doce de cada um, Monteiro Lobato, são livros que trabalham a riqueza das relações, para toda e qualquer idade.
Já para adultos, recomendo para este desligamento do mundo exterior, no quesito condicionamentos sociais, uma pausa na frenética da vida que nos levam para longe das nossas almas, um encontro/reencontro, através de livros de mitologia, nossa eles nos ajudam a nos reconectar com os anseios das nossas almas. Neste caminho, entre muitos livros bons, recomendo “Mulheres que Correm com os Lobos”.
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Que linda sua experiência, Débora. Essa é a explicação para quem quer entender um leitor, a partir do momento que nos deixamoa guiar pela leitura, nunca mais abandonamos esse prazer. Adorei suas dicas, muito obrigada por compartilhar! ❤
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